por Reynaldo Damázio
A cidade é descrita pelo narrador deste primeiro romance do escritor e jornalista Bruno Zeni como "bela e podre". Essa contradição percorre todo o livro e se reflete na própria dicotomia de focos narrativos, entre o jovem Roma -que tem a mesma profissão do autor- e o morador de rua Amaro. Lados da mesma moeda, irmanados para além do anagrama dos nomes, ambos carregam sua amargura por ruas que se tornaram avessas ao convívio humano, numa metrópole marcada pelo acúmulo desordenado de veículos e pela especulação imobiliária predatória.
Encontrar alguma beleza na cidade degradada pode parecer uma opção idealista, resvalando às vezes para uma leitura romântica da periferia, como na figura do personagem Kleber, mas que logo se depara com a realidade brutal de solidão e de abandono, da falta de perspectivas e da monotonia do cotidiano.
Roma se sente como um estrangeiro no labirinto de avenidas que tenta decifrar, mas acaba devorado por um trauma pessoal que o coloca à beira do abismo. O peso do concreto petrifica, aos poucos, qualquer esperança de redenção. Resta o delírio de um gesto coletivo extremo, anárquico, que mergulharia a cidade no pesadelo de suas próprias contradições.