quarta-feira, 4 de novembro de 2009

resenha Guia da Folha (Livros, Discos, Filmes) 30/10

por Reynaldo Damázio


A cidade é descrita pelo narrador deste pri­meiro romance do escritor e jornalista Bru­no Zeni como "bela e podre". Essa contradi­ção percorre todo o livro e se reflete na pró­pria dicotomia de focos narrativos, entre o jo­vem Roma -que tem a mesma profissão do autor- e o mora­dor de rua Amaro. Lados da mesma moeda, irmanados para além do anagrama dos nomes, ambos carregam sua amar­gura por ruas que se tornaram avessas ao convívio humano, numa metrópole marcada pelo acúmulo desordenado de veí­culos e pela especulação imobiliária predatória.

Encontrar alguma beleza na cidade degradada pode parecer uma opção idealista, resvalando às vezes para uma leitura ro­mântica da periferia, como na figura do personagem Kleber, mas que logo se depara com a realidade brutal de solidão e de aban­dono, da falta de perspectivas e da monotonia do cotidiano.

Roma se sente como um estrangeiro no labirinto de aveni­das que tenta decifrar, mas acaba devorado por um trauma pessoal que o coloca à beira do abismo. O peso do concreto petrifica, aos poucos, qualquer esperança de redenção. Resta o delírio de um gesto coletivo extremo, anárquico, que mergu­lharia a cidade no pesadelo de suas próprias contradições.

O autor

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São Paulo, SP, Brazil
Escritor e doutor em Letras pela USP. Livros: "O fluxo silencioso das máquinas" (Ateliê Editorial, 2002), "Sobrevivente André du Rap "(Labortexto Editorial, 2002, em parceria com José André de Araújo) e "Corpo a corpo com o concreto" (Azougue Editorial, 2009).